quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pequeno universo possível

Hoje, a casa que é da Faxineira, um dia foi do Seu Valdir. A faxineira alugou, porque é o local mais próximo do escritório onde ela trabalha. Mas está é uma outra história. Seu Valdir morou nesta casa que era muito fria, sem muita porta, mas com muitas janelas para poder fitar os olhos para todas as direções. La morava com ele, Juju e Rebeca, que ele educava e alimentava todos os dias, sem contar outros amigos que ele hospedava em sua casa como se fosse um hotel. Lá ele também recebia às vezes um grupo de teatro e emprestava sua casa para ensaios. Nesta casa ele também era ajudado por outros amigos que traziam alimento e conversas fiadas, afinal de contas, todo mundo precisa de conversas sem pretensões, só conversas. Hoje ele mora em outra casa, um pouco mais quente, com cama, fogão, geladeira, tv e um radinho. No entanto a casa que hoje mora a faxineira, tem muitas histórias despretensiosas da época do Seu Valdir, talvez por isso que eu lembre mais, deste pequeno universo possível, se fosse maior, acho que não seria possível.

ba.bi.lô.nia em breve!!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sobre o FunCultura

O Grupo Populacho torna publico que finalmente foi liberado a 1ª parcela para a circulação do espetáculo ba.bi.lô.nia - Contemplado pelo Edital FUNCULTURA 01/2012-DCC - PA. Nº 1471/2012*.

Agradecemos aos amigos e parceiros que nos ajudaram publicamente em defesa da transparência do Fundo.

Em breve divulgaremos maiores informações.



* P.A nº 1471 - Publicado pelo Departamento de Compras e Contratações em 
28.02.12 pág. 05. Autorizando abertura do concurso público para financiamento 
de projetos culturais pelo FunCULTURA.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Sociedade Alimentada


Andando pelas ruas, vejo em mim um desejo desesperado de perceber o sentimento alheio, andava encarando as pessoas na esperança de descobrir alguma coisa, mas como fazer leitura dos sentimentos se sempre andam correndo com seus olhares baixo? Não me encaravam.
Decidir chamar atenção, fingi um desmaio, queria olhar dentro dos olhos do primeiro que me acolhesse, daria certo se as pessoas não estivessem em seu mundo, me pisando ou passando por cima de mim, não fui visto. Levantei, me organizei e fiquei refletindo esta experiência, não fui visto as pessoas não me viam, não me viam, era isso eu pensei.
Não conseguir pensar em como chamar atenção, pensei em gritar, me pintar, carregar bandeiras e bradar protestos, pregar sermões, invadir suas preocupações... Resolvi incomodar cada pessoa que passava, por hora era agredindo e por hora era tentando pegar seus pertences aos gritos olhem para mim, quero conhecê-los, quero saber de vocês.
Fui agredido, rendido e preso, encaminhado e fichado como perturbador da ordem pública, mas, quebrar o ritmo das pessoas é perturbar a ordem pública? Ordem pública é a rotina? Senhor Delegado tudo que esta em sincronismo com a rotina é a tal da ordem pública?
- Você não pode invadir o espaço das pessoas, isso é perturbação.
-Mas “seu” Delegado, me sinto invadido sempre por decisões que eu não tomo.
-Ah é? Quais decisões? Está sendo manipulado?
-Oh seu Delegado todos os dias pago taxas que não concordo, sou obrigado a cada dois anos registrar o meu voto em alguém sem estar com vontade de fazê-lo e faço outras milhares de coisas por cumprir algo que não foi minha escolha, isso não é ser invadido?
- Não, isso é ato de um cidadão livre.
- Cidadão livre? Mas disse que faço coisas sem ter a opção de recusar.
- Sim, cidadão livre. Você vive em um país democrático por direito. As taxas são para manter a ordem.
- Ordem? Do que?
- A Organização.
- Pagamos para sermos organizados?
- Isso, para vivermos em harmonia com o próximo e custear as benesses da sociedade.
- Mas, “seu” Delegado o que é harmonia dentro de uma sociedade organizada que tem a democracia como direito garantido, onde as pessoas não se olham? Benesses?
- Hum!... Soldado ponha este senhor no xadrez, talvez amanhã ele tenha a resposta.
Passei a noite na cadeia com outros senhores, estes me encaram sem dar trégua e a cada respiração mais forte que dava recebia um tapa na cabeça e alguns empurrões. Parei de olhar, abaixei a cabeça não olhei para mais ninguém.
No dia seguinte fui chamado pelo delegado – E ai, descobriu?
De cabeça baixa estava de cabeça baixa fiquei – Soltem este paspalhão. Sair sem conseguir encarar as pessoas, mantendo o meu olhar baixo.
Acho que estas pessoas já passaram uma noite nesta delegacia.