sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Relato dos articuladores sobre ocupacao funarte

Relato aos amigos da REDE…

Experiência vivida, sentida, doída, pensada, repensada, refletida, modificada, trocada… experiência!

Mais de 300 trabalhadores entram portões adentro neste prédio instituição falida: FUNARTE. Para descobrir aqui as suas próprias crises, medos e fragilidades. Seis dias dormindo, lavando banheiros, cozinhando, conversando, não dormindo na segurança dos portões, respirando coletivamente esse ar de tanta tensão-transformação.

Aprendizados: reconhecer os parceiros, saber com quem lutamos e contra quem lutamos. Lutamos contra este Estado, mesma face deste Mercado, lutamos com todos que não reconhecem a perversidade e força deste sistema e não se empenham com toda sua vida para derrubá-lo.

Em muitas assembléias, debates e encontros formais ou informais construímos e desconstruimos nossos conceitos. Discutimos a revolução, o capital, nosso modo de produção, nosso fazer artístico. Nossa luta que é poética, com mesmo peso e valor da política, porque também é política, mas pela estética, pela poesia, porque esse é nosso corpo e a nossa voz.

Madrugadas e madrugadas de produção riquíssima de debates, diálogos e encontros. Pau e lata do RN, Escambo do Nordeste e do Brasil, parceiros do Sul, de Mato grosso do Sul, do Acre, de Minas, do interior e litoral paulista e de todos os Estados, presentes aqui ou não, se presentificaram em suas moções de apoio, em sua vontade de estar junto, em sua paciência perdida a distância.

Sentimos aqui energia parecida com a de nossos encontros sempre tão produtivos e ricos… No entanto, vemos o quanto as nossas conversas em roda nos encontros da RBTR, mais livres, as maneiras de condução, a diversidade e as diferenças culturais e regionais caberiam muito bem aqui.

Não à toa, nestes seis dias, construímos rapidamente documentos de tanta contundência e de respeito de toda sociedade e de toda categoria. Não à toa mobilizamos tantos jovens ou não jovens. Não à toa PERDEMOS A PACIÊNCIA e estamos aqui! E é preciso estudo, pesquisa, formação política... É fundamental.

Qual modelo? Qual jeito? Qual forma? Que bom nunca ter respostas… Vamos escrevendo nosso caderno de erros, junto!

O mais triste são trabalhadores como nós, que preferem apontar tantas falhas (que claro, existem!) e destruir pequenos atos de resistência como este, que são apenas pontinhas de lança contra esse iceberg sistemamercadoestado que muito mais perverso e inteligente e organizado que nós, não passa por rachas e desavenças internas porque sabe muito bem contra quem luta.

Daqui, vemos que nossos anseios são os mesmos. Que não há diferença entre paulistas e brasileiros, a não ser um maior número de pessoas reunidas por conta do maior histórico de politização que se dá pela maior concentração de verba e de grupos por aqui e principalmente pela lei de fomento, conquista desta mesma categoria aqui reunida e que hoje, por força e luta de companheiros de outros estados, está brotando em outros lugares.

O Prêmio Teatro Brasileiro é pro BRASIL! O descontingenciamento é pro BRASIL! As PECS, os programas e leis de orçamento fixo, são pro BRASIL! Mas nós, ingenuamente ainda mantemos richas internas medíocres e pequenas, desfocando-nos do inimigo imensamente maior que nós.

A idéia que está sendo divulgada de que somos juvenis, de que há um pequeno grupo no comando, de que nos fechamos à sociedade e somos contra o diálogo é uma grande mentira bem construída ou ingenuamente pensada até por parceiros que fazem uma avaliação diminuída do que aqui está sendo construído.

Estamos aqui construindo e desconstruindo, ou, como diria o sr. Keuner: preparando nosso próximo erro! Parceiros da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA, sentimos aqui uma coisa só. O mesmo grito e o mesmo chapéu! Somos trabalhadores e perdemos a paciência por políticas públicas para todo um país! Os que se contemplam em nossos documentos, cartas, manifestos, juntem-se a nós, para erros e mais erros contra os que acertam muito bem, sem deslize algum!



Núcleo Pavanelli; Grupo Teatral Parlendas; Cia dos Inventivos; Trupe Olho da Rua; Companhia do Miolo; Populacho & Piquenique;